RAIVA

material fornecido pela amabilidade do Dr. Handré Luish

Aspectos Epidemiológicos
        A Raiva é uma antropozoonose transmitida ao homem pela saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura. Apresenta letalidade de 100%. O vírus rábico é neurotrópico e sua ação causa uma encefalomielite aguda.

Agente Etiológico
        O vírus rábico pertence ao gênero Lyssavirus, família Rhabdoviridae e seu genoma é constituído por RNA.

Reservatório
        No ciclo urbano, a principal fonte de infecção são o cão e o gato. No Brasil, o morcego é o principal responsável pela cadeia silvestre, outros reservatórios: raposa, coiote, chacal, gato do mato, guaxinim, mangusto e macacos.

Modo de Transmissão
        A transmissão da Raiva se dá pela inoculação do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura e, raramente pela arranhadura. Existe relatos de 2 casos de transmissão inter-humana que ocorreram através de transplante de córnea. A via respiratória também é aventada.

Período de Incubação
        É extremamente variável, com média de 45 dias no homem e de 10 dias a 2 meses no cão. O período de incubação está intrinsicamente ligado a:

Período de Transmissibilidade
        Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva se dá de 2-5 dias antes do início dos sinais clínicos, persistindo durante toda evolução da doença. A morte do animal ocorre 5-7 dias após a apresentação dos sintomas.

Suscetibilidade e Imunidade
        Todos os animais de sangue quente são suscetíveis. Não se tem relato de casos de imunidade natural no homem. A imunidade é conferida através de vacinação.

Distribuição, Morbidade, Mortalidade e Letalidade
        A Raiva está presente em todos os continentes, apresentando 2 ciclos básicos de transmissão, o Urbano que ocorre entre cães e gatos e é de grande importância nos países do 3º mundo, e o Silvestre, que ocorre entre morcegos, macacos e raposas. Na zona rural, esporadicamente, afeta animais de criação como bovinos e eqüinos. No Brasil, a Raiva é endêmica. O Nordeste responde por 61% dos casos humanos, seguido do Norte (18%), Sudeste (11%), Centro-Oeste (9%) e Sul ( ß 1%).
        Desde 1981, não há registro de casos no Sul, com exceção de 1 caso do Paraná cuja fonte de infecção foi um morcego. Neste mesmo período, cães e gatos responderam por 77% dos casos humanos, os morcegos por 11%, outros animais (raposas, sagüis, gato selvagem, bovinos, eqüinos, gambás, suínos e caprinos), 5%. O coeficiente de morbimortalidade de raiva nos últimos 5 anos vem ß . O coeficiente de letalidade da Raiva é de 100%.

Aspectos Clínicos da Raiva Humana
        Os pródromos iniciais, que duram de 2-4 dias, são inespecíficos com o paciente em MEG, pequeno Ý T, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e angústia. Podem ocorrer hiperestesia e parestesia nos trajetos de nervos próximos a mordedura e alterações de comportamento. A infecção progride, surgindo ansiedade, hiperexcitabilidade, febre, delírios, espasmos musculares e convulsões. Ocorrem espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua, quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando sialorréia intensa. Os espasmos musculares evoluem para paralisias, levando a alterações cárdio-respiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. O paciente se mantém consciente, com alucinações até a instalação de coma e evolução para óbito. É ainda observado disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia. O período de evolução do quadro, após instalados os sintomas até o óbito, varia de 5-7 dias.

Diagnóstico Diferencial
        Não existem dificuldades para estabelecer o Dx diferencial, quando o quadro é acompanhado dos sintomas típicos antecedidas por mordedura, arranhadura ou lambedura de mucosa por animal raivoso.
        Dx diferencial: tétano; HBV; botulismo; febre por arranhadura de gato; quadros psiquiátricos; tularemia. Cabe salientar a ocorrência de outras encefalites por arboviroses existentes, principalmente na Amazônia, com quadro compatível com o da raiva. Ao exame, considerar na suspeita clínica: fácies, hiperacusia, hiperosmia, fotofobia, aerofobia, hidrofobia e as alterações de comportamento.

Tratamento
        O paciente deve ser atendido na US mais próxima, sendo evitada sua remoção. Deve-se mantê-lo em isolamento, em quarto com pouca luminosidade, evitar ruídos, proibir visitas e somente permitir a entrada de pessoal da equipe de atendimento.
        Deve ser recomendado o uso de EPI. Não há tratamento específico. Suporte: dieta por SNG; hidratação; sonda vesical para ß manipulação; controle da febre e vômito; b -bloqueadores para hiperatividade simpática; instalação de PVC e correção da volemia na vigência de choque; tratamento das arritmias cardíacas; sedação de acordo com o quadro clínico; antiácidos para úlcera de estresse.

Diagnóstico Laboratorial
        A confirmação dos casos de raiva humana pode ser realizada através da imunofluorescência em amostra de saliva (esfregaço), impressão de córnea (doloroso), raspado de mucosa lingual, tecido bulbar de folículos pilosos e biópsia de pele da nuca. A sensibilidade dessas provas é limitada, quando (-) não se pode excluir a possibilidade de infecção. Pode-se realizar a imunofluorescência para determinação de IGM no soro, secreção lacrimal ou salivar. A realização da necrópsia é de extrema importância para a confirmação Dx. O SNC deverá ser encaminhado para o laboratório.

Aspectos Clínicos da Raiva Animal:

·  Furiosa: angústia, inquietude, excitação, agressão, alterações do latido (latido rouco), dificuldade de deglutição, sialorréia, tendência a fugir, excitação das vias geniturinárias, irritação no local da agressão, incoordenação motora, crise convulsiva, paralisia, coma e morte.
·  Muda ou Paralítica: fotofobia, sintomas paralíticos, que se iniciam pelos músculos da cabeça e pescoço, paralisia dos membros posteriores, estendendo-se por todo corpo do animal, dificuldade de deglutição, sialorréia, coma e morte. O curso da doença dura 10 dias e o animal pode estar eliminando vírus na saliva desde o 5º dia antes do início dos sintomas.

Diagnóstico Laboratorial Para Animais
        O Dx laboratorial é essencial para a eleição de estratégias e definição de intervenção. O material para exame é o encéfalo.

Vigilância Epidemiológica
        Um caso de raiva humana representa a falência de um sistema de saúde.

Notificação
        Todo caso humano suspeito de raiva é compulsoriamente notificável, imediatamente.

Definição de Caso de Raiva

Critérios para Confirmação Diagnóstica:

Medidas de Controle da Raiva Humana
        A profilaxia da raiva é feita mediante o uso de vacinas e soro, quando os indivíduos são expostos ao vírus através de mordedura, lambedura de mucosa ou arranhadura, provocada por animais transmissores.

Bases Gerais do Tratamento
Vacinação

Ferimento

Animal

·  ratazana de esgoto (Rattus norvegicus)
·  rato de telhado (Rattus rattus)
·  camundongo (Mus musculus)
·  cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus)
·  hamster (Mesocricetus auratus)
·  coelho (Oryetolagus cuniculos)

Vacinas
Fuenzalida & Palácios

Soros

Profilaxia e Controle da Raiva Animal

·  notificar imediatamente
·  se o animal estiver vivo, não matá-lo; observa-lo para acompanhamento da evolução do quadro. Se o animal morrer, providenciar o envio do encéfalo ao laboratório.

Casos de Intervenção

·  informar e envolver a comunidade nas ações de controle
·  vacinar os animais suscetíveis, essa vacinação dos suscetíveis dentro da área de foco deve obedecer o tipo "casa-a-casa", com o objetivo de imunizar 100% da população canina, devendo ser realizada nas primeiras 72h após a detecção do foco
·  apreender cães errantes
·  realizar em locais adequados a observação de animais agressores, por um período de 10 dias
·  estimular e providenciar o envio de amostras para laboratório
·  proceder a revacinação, em um prazo não inferior a 90 dias
·  delimitar o foco com base nos critérios estabelecidos pelo rastreamento da possível fonte de infecção, barreiras naturais e organização do espaço urbano
·  estimular a notificação

Aspectos Específicos da Epidemiologia e Controle da Raiva Animal:

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